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Conquering Fear: My Life-Changing Decision in Jiu-Jitsu 

 
 
In this gripping video, I share a pivotal moment in my Jiu-Jitsu career that left an indelible mark on my journey. Watch as I reveal the audacious decision that every athlete dreads, and the strategy, courage, and nerves of steel it took to make it. Join me in this intense and emotional recount of the day that changed everything. If you're a Jiu-Jitsu enthusiast, an athlete, or someone who appreciates stories of determination and fearlessness, this video is a must-watch. Subscribe, like, and hit the notification bell to experience the triumph of conquering fear and achieving greatness in the world of martial arts. 🥋✨
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Posted by Felipe Costa Nov 08, 2023 Categories: BJJ Felipe Costa Motivacional

A banalização do doping no Jiu-Jitsu e as maiores falácias em defesa do uso. 

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A banalização do doping no Jiu-Jitsu e as maiores falácias em defesa do uso.

Ao contrário do quer fazer acreditar, a maior vantagem de quem usa esses recursos não é a força em si na hora da luta, que deve ser bem vinda, mas a capacidade de se recuperar mais rápido de treinos extenuantes e lesões. Se fosse apenas o benefício da força em si, algum incauto pudesse aceitar o argumento de alguns de que “Jiu-Jitsu não é força, então coloca lá um halterofilista para ver se ele ganha”, mas esse é um argumento de quem pensa na bomba apenas como aquela coisa que deixa a pessoa inchada e musculosa, quando na realidade os maiores benefícios são outros. No ciclismo, por exemplo, não há nenhum atleta com grande massa muscular, portanto são notórios vários casos de atletas pegos no doping, mesmo com o rígido controle. Dentro de tudo que já escutei e li a respeito, afirmo novamente que o maior benefício é a possibilidade de recuperação muito mais rápida entre um treino e outro e das lesões. Enquanto um atleta chega no fim da semana esgotado e precisando do descanso, o outro está apto a continuar treinando sem se sentir esgotado. Torna-se então uma questão de lógica: entre atletas de níveis similares, se um pode treinar mais que o outro, quem treina mais, leva vantagem. 

É sabido que desde sempre há pessoas fazendo uso de drogas para melhorar o desempenho nos treinos e campeonatos, mas quem usava ou usa, não costuma admitir fora de sua roda de amigos. Para mim, essa é a maior prova de que quem toma sabe que está trapaceando. Essa pessoa tem vergonha de assumir publicamente o uso, pois ela secretamente se questiona se seria capaz das mesmas conquistas se estivesse limpo. Não quer, portanto, que o público levante a dúvida de sua capacidade de atingir os mesmos logros pois, dentro de si, ela mesmo apostaria que não. 

“O uso de anabolizantes não torna a pessoa boa no Jiu-Jitsu.” Esse é um argumento comum de quem defende quem é pego no exame anti-doping, mas novamente parte de uma premissa errada, de que o objetivo do uso é apenas o ganho de força. A droga em si não faz ninguém ser bom de Jiu-Jitsu e nem mesmo se tornar bom nas estratégias que envolvem uma competição. Se eu pegar uma senhorinha andando no calçadão de Copacabana e der bomba para ela, ela não vai entrar e vencer nenhum campeonato. Mas pensa no seu companheiro de academia que faz o treino mais duro contigo, aquele treino equilibrado, que você vence em um dia e ele te dá o troco no outro. Vocês estão sempre se puxando e estimulando a melhorar. Pensou em alguém? Agora dá bomba para esse cara. Ele terá vantagem ou não? A resposta é sim e acaba com argumento inicial, que é um raciocínio que pensa só no ganho da força, logo é usado na circunstância errada e sendo assim leva a conclusões erradas. Diante desse exemplo, posso ainda contra argumentar que sim, o uso de anabolizante pode tornar a pessoa boa no Jiu-Jitsu, pois possibilita que treine mais vezes, trazendo uma evolução técnica mais rápida, se considerarmos que no treino que se evolui. 

Usando ainda o mesmo exemplo com seu companheiro de treino que agora passou a se dopar. Imagina que antes vocês faziam 5 treinos na semana e agora ele pode fazer o dobro, pois não demora tanto quanto você para descansar ou recuperar de uma lesão. No fim de 12 meses você treinou 260 vezes e ele treinou 520. Se no ano seguinte você se mantiver limpo e ele não, ele terá acumulado 1040 treinos e você 520. É como se ele avançasse dois anos por cada ano de treino que você desse. Imagina o quanto mais evolui na técnica do Jiu-Jitsu alguém que inicialmente tem nível semelhante ao seu, mas consegue treinar o dobro? Portanto eu poderia até afirmar que o uso de anabolizante pode deixar sim uma pessoa boa no Jiu-Jitsu. Assaltar um banco também pode tornar uma pessoa rica, mas eu não quero enriquecer assim. Vai de como você quer atingir seus sonhos e metas.

Posso imaginar algumas pessoas argumentarem que “então eu tomo também”. Entendi, mas aí seria você e ele obtendo vantagem indevida sobre outros dois amigos ou adversários de outra academia. Qual o problema? O problema disso é que é ilegal, é proibido, portanto quem faz e entra em um campeonato como da IBJJF que proíbe nas regras, está trapaceando.

Um exemplo mais simples e direto. Se fosse possível um confronto entre você e sua versão idêntica, mas que faz uso desses anabolizantes. Quem leva vantagem? Quem se pergunta sabe a resposta e sabendo ela, impossível sustentar uma defesa do uso, a menos que desconsidere a ilegalidade nas regras e os riscos para saúde. 

“Não usa quem não quer.” Ao ler sobre as vantagens indevidas dos que tomam, sem listarmos os riscos para saúde, pode até parecer apologia. Se melhora na recuperação do cansaço e lesões, será que devo tomar? Vamos ignorar que é contra a regra por um momento, pois sei que há campeonatos que não testam e alguém pode argumentar que nesses campeonatos não é ilegal. Ainda assim há perigos para saúde que algumas pessoas não estão dispostas a se arriscar. 

“Se for testar todo mundo, não sobra ninguém limpo.” Essa frase se tornou um clichê no esporte, assim como a ideia de que “só é possível ser campeão tomando, pois todos tomam”. Frases que também partem de premissas erradas, primeiro por não ser verdade que todo mundo toma, apesar de muitos dos que estão no topo o fazerem. O que é preciso lembrar é que há os que preferem respeitar as regras e não se dopam, mesmo que tenham se tornado minoria. Essas pessoas podem estar sendo eliminadas nos rounds iniciais ou até mesmo nas fases classificatórias. Os injustiçados são pessoas muito mais próximas da sua e da minha realidade do que da realidade criada em laboratório do falsos campeões. Quando você decide admirar alguém que faz uso desses subterfúgios , está escolhendo como exemplo alguém que ganha trapaceando. Volto a dar o exemplo da pessoa com sucesso financeiro, pois é fácil entender, admiro quem conquista a independência financeira através do trabalho honesto, mesmo que sua riqueza seja menor do que aquela pessoa que conquistou maior quantidade, porém de forma desonesta. 

“Tive que usar para me equiparar aos outros” Se você entende que o uso é ilegal, que ao usar seu adversário esta trapaceando, você quer fazer o mesmo que ele? Entendo que você possa se sentir injustiçado, mas sua resposta para isso é se tornar igual? Se essa é a sua justificativa, eu não acho que você pensa diferente de quem usa.

“Tem que levar em consideração que sou mais velho e lutando contra as novas gerações” Mas a regra não muda de acordo com a idade. Existem categorias para cada idade, se você opta por se aventurar com os mais novos, isso não te dá o direito de se dopar. Ao menos em campeonatos que a regra proíbe. Seria como me inscrever em um campeonato de Jiu-Jitsu, ser punido ao nocautear meu adversário com um soco e me sentir injustiçado. NÃO, a regra é clara quanto a proibição de soco, assim como uso de doping. 

Se pela idade o atleta não tem mais condições de enfrentar os mais jovens, entre na categoria dos mais velhos ou se aposente das competições. Ordem natural. Além disso, o veterano que assume o uso, deixa no ar a dúvida se na verdade não faz uso desde novo. 

Se existem campeonatos que não testam, qual razão de não lutarem só esses? Ninguém é obrigado a lutar na única federação que testa, a IBJJF, ainda assim, todos querem, pois sabem que é o de maior prestígio. A estratégia não é segredo, fazem uso indiscriminado e buscam o título e reconhecimento pela IBJJF, se eventualmente forem pego no fraco teste, ainda assim, usufruem da notoriedade até a divulgação do exame. Dão mais seminários, fecham patrocínios e são convidados para lutar outros eventos pagos enquanto esperam passar o prazo da punição sem lutar a IBJJF. Quando termina, voltam a lutar e fazem tudo de novo. Já há atleta que foi pego mais de uma vez. Eles não se assustam, pois a punição não vale para outros eventos e a quantidade de gente que ainda consegue defender isso é assustadoramente crescente. 

“Mas é injusto só testarem o campeão” Essa frase é uma cortina de fumaça contra o real problema. Claro que o ideal é testar todo mundo e com testes mais eficientes, mas é financeiramente inviável por enquanto. Diante desse fato e de que isso costuma ser dito quando “cai” alguém, a frase se torna apenas uma distração. Melhor testar somente o campeão do que ninguém, assim como é melhor prender apenas um assaltante do que nenhum. Imagina alguém argumentar que é injusto prender apenas um assaltante pois é impossível prender todos? 

“Não há vantagem indevida, apenas faço reposição hormonal” me disse um atleta tentando me convencer. Tive curiosidade de entender melhor e fui aprendendo a respeito. De fato há alguns casos onde a reposição hormonal é necessária, são casos muito específicos ou para pessoas bem mais velhas, acima de 65 anos. Esse faixa preta que me disse isso, um campeão brasileiro na categoria adulto, não via absolutamente nada de errado em fazer reposição hormonal. Como era mais novo que eu, perguntei com que idade havia começado e sem nenhum pudor disse que aos dezoito anos, apenas em doses para ajustar os níveis recomendados. Ele estava convencido de que dessa forma tudo bem.

Descobri ser normal em atletas acima de trinta ou quarenta anos que começaram a fazer uso de testosterona muito jovem  precisarem de fato fazer reposição, pois o corpo para de produzir naturalmente. Não posso aceitar que esses casos sirvam de desculpas ou justificativa para normalizar o uso. 

“Já fui testado e não fui pego no doping” não é a mesma coisa que dizer com todas as palavras “Eu nunca fiz uso de substâncias proibidas, sou contra e quem faz está trapaceando”. Você já se perguntou por que não ouviu da boca de alguns grandes campeões o repúdio a quem é pego no doping? Vou dar uma dica, é pela mesma razão que certos políticos não comemoram a prisão de outros políticos corruptos. No fundo, estão apenas dando “Graças a Deus” por não terem sido eles a serem descobertos. 

Faça essas 3 perguntas para o seu ídolo no esporte:

  1. Você usa ou já usou alguma substância para melhorar o desempenho?
  2. Você considera que quem usa esta trapaceando?
  3. Na sua opinião, os atletas que já foram pego no exame anti-doping, deveriam ser proibidos de lutar todos os eventos de luta?

Se ele gaguejar nas respostas, pode suspeitar. A maioria não tem coragem de assumir, mas alguns, por outro lado, já estão deixando de ter vergonha e tentando normalizar o uso.

Em 2015, ouvi um penta campeão mundial na faixa preta, falando em uma mesa de jantar lotada para quem quisesse ouvir, portanto não devia ser segredo, a seguinte afirmação: “Do jeito que a IBJJF testa, apenas no dia e com teste de urina, só é pego no doping quem é muito burro. Basta fazer uso com acompanhamento de um bom médico que saiba a hora de parar e assim a substância sai do corpo antes do dia do teste, sem atrapalhar os benefícios durante os treinos”. 

Treinei com várias equipes, convivi com vários atletas. Já ouvi confissão do uso da própria boca ou mesmo de seus companheiros de treino. Não falo por querer apontar alguém específico, e nem preciso, quem é do meio já sabe, mas  vejo o problema como sendo maior do que acusar um indivíduo, falo apenas por ver que estão querendo normalizar algo que não pode ser aceito no Jiu-Jitsu. O uso se tornou banal e isso me assusta, mas não tanto como perceber que a defesa do uso tem sido ampla e aberta, não apenas pelos atletas, como por praticantes que fazem por hobby. Perderam a vergonha de defender o doping e buscar justificativas para tal. Mesmo entre alunos que não são atletas profissionais, que as vezes nem competem ou somente o fazem esporadicamente, estão fazendo uso indiscriminado.  Considero esse um caminho perigoso. 

É possível vencer de forma limpa. Falo não apenas baseado em minhas conquistas, mas também de outros campeões que vi chegarem ao topo. Pense qual escolha combina com você e pense que, para quem usa, deve ser horrível chegar em casa, olhar para o quadro de medalhas e ter dúvida se seria capaz de conquistá-las limpo. 

 

Escrito por Felipe Costa 

SOBRE O AUTOR: Felipe Costa foi um competidor profissional de jiu-jitsu e uma das principais figuras de sua geração no peso galo, tendo conquistado títulos mundiais nas 3 (três) principais federações do esporte (IBJJF, UAEJJF e CBJJO). Costa se tornou conhecido por alcançar o auge do esporte como faixa-preta sem ter tido  sucesso no mais alto nível durante sua carreira anterior de faixa-preta. O sucesso que alcançou no circuito profissional foi mantido ao longo de sua carreira e durou 15 anos, nos quais Costa se manteve consistentemente entre os três melhores da divisão. (descrição do site BJJ Heroes). 

 

 

 

 

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Prepare-se para o pior. 

Prepare-se para o pior.
 
prepare-se para o pior.
 
Não me considero pessimista.
Essa frase inicial, tampouco, nunca foi para mim um lema. 
Olhando em retrocesso, acho que nunca parei para pensar de verdade nessa simples frase antes desse momento que estamos vivendo, mas foi só começar a refletir um pouco para perceber o quanto ela pautou minha vida e já há quanto tempo.
 
Impossível fazer essa reflexão sem passar pela minha vida esportiva e, vasculhando minha memória, fui notando que nos meus pequenos atos ia adotando essa filosofia inconscientemente. Pelo menos, não me lembro de alguém ter me verbalizado isso, mas certamente exemplos familiares e de amizades ajudaram a reforçar algo que imagino, sem nenhuma certeza, ser uma característica de nascença. 
 
Me lembro desde novo fazendo questão de chegar pontualmente nos treinos, mesmo tendo dificuldade com a parte física da aula, pois na minha cabeça estaria trapaceando se chegasse na hora do treino menos cansado que meus companheiros.
 
Sempre busquei me colocar e treinar contra os pontos fortes de cada colega, pois se me fortalecesse diante da dificuldade estaria melhor preparado para o momento real do desafio.
 
NUNCA, e bato no peito com orgulho, pedi para descansar entre treinos ou se alguém ainda estivesse treinando, antes de me tornar campeão mundial na faixa preta. Depois aprendi que isso não é sempre a melhor forma de treinar, mas foi bom para blindar a mente para as adversidades e me preparar ao menos psicologicamente para o pior.
 
Estar cansado nunca foi desculpa para deixar de fazer o que precisava ser feito. Estar com dor, nervoso ou com medo, nunca foi o suficiente para me fazer deixar de enfrentar minhas dificuldades.
 
Aprendi a, diante da adversidade, ignorar momentaneamente os problemas e entrar de cabeça com aquilo que tinha disponível no momento. Um exemplo, ainda no esporte, me vem a cabeça e conto resumidamente para ilustrar:
 
Mundial de 2012, faixa preta, peso galo, já com os meus 35 anos, ainda lutando na categoria adulto. Nas oitavas de final, venci a luta por 8 a 0 mas, durante uma movimentação, sofri uma grave torção no joelho. As quartas de final era só no dia seguinte, o que pode parecer bom, mas nesse caso era ruim, ao esfriar a dor viria e veio. Já cheguei no hotel mancando e virei a noite acordado, com muitas dores, tentando amenizar com compressas de gelo. 
 
A preocupação estava estampada no rosto de todos que me acompanhavam.
Meu adversário seria um jovem japonês que havia me vencido 3 meses antes, não seria fácil vencer  lesionado, alguém que havia me ganho sem lesão, mas a mentalidade do dia a dia de me colocar e me preparar para o pior, me levou aquele momento com serenidade.
 
Apesar da grande dificuldade e dor, já saí do carro, no estacionamento do ginásio na California, sem mancar e com cara de quem estava entrando no tatame, ninguém ao me olhar seria capaz de imaginar minha dor ou que estava virado sem dormir. 
 
Foco total e pronto para encarar o pior. A luta foi dura, mas saí vencedor. 
 
Felipe Costa jiu jitsu japones
 
Não tive condiçōes de continuar e abri passagem para um grande amigo. Foi meu penúltimo mundial de adulto, conquistando minha oitava medalhas no Mundial IBJJF de faixa preta adulto, em um total de 9 medalhas que viria a conquistar em 11 anos de faixa preta. 
 
Não sei dizer se essa mentalidade no esporte transbordou para vida ou o contrário. O fato é que pautou muitas decisōes: 
 
 "O que de pior pode acontecer?" passou a ser uma pergunta verbalizada ou ao menos pensada em muitas situaçōes. Familiar no hospital, cachorro no veterinário, lesōes, decisōes profissionais e financeiras foram sempre pautadas por indagaçōes de qual seria o pior cenário e quais as opçōes para lidar com ele. 
 
Financeiramente sempre fui muito pé no chão. Isso sim tem grande influência familiar, mas um tanto de personalidade. Ainda criança lembro de brincar com amigos daquele jogo Roleta, onde simulava as apostas de cassino. Meus amigos se arriscavam muito e mesmo sabendo que era brincadeira, nos meus 9 ou 10 anos apostava a maior parte na cor, ou par/impar, que para quem lembra são as opçōes de menos risco e menos rendimento. 
 
Há cinco anos, surgiu a possibilidade de assumir e liderar uma academia em Ipanema, bairro que cresci. Não havia nada de seguro na aposta de estar a frente dessa academia. Havia indícios de que eu teria muito trabalho e pouco lucro. 
 
Eu podia ter continuado com minha vida, sem arriscar as economias familiares, mas apostei em um ciclo natural de minha carreira esportiva. Em decisão familiar, concluímos que valia aproveitar a oportunidade que se apresentou.
 
Investi tempo e dinheiro. Consegui com ajuda dos que foram se tornando parte da equipe e principalmente com os alunos fiéis, aos poucos consolidar o nome da academia e nos consolidar como referência para estrangeiros que nos visitavam de muitos lugares do mundo. Um objetivo difícil e ainda com muito espaço para crescer.
 
Somos a academia com melhor número de avaliações 5 estrelas no Rio, talvez no Brasil. Depoimentos reais e honestos de alunos e  visitantes internacionais.
 
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Ainda assim, mesmo com sucesso aparente, a academia sempre sofreu com altos e baixos financeiros e, apesar de ter alguns meses animadores, houveram anos que só deu para empatar a conta .
 
Há vantagens além da parte financeira. A academia e meus alunos dedicados se tornam uma importante vitrine para consolidar meu prestígio como professor e fortalecer onde tenho mais rendimento: as viagens para dar seminários. Fortalecem, mas não são fundamentais. O que me traz maior alegria é ver que, através desse negócio (portanto, de mim), muitas outras pessoas estão tirando sustento ou fortalecendo a renda familiar. Acreditem ou não, esse pensamento pesa tremendamente na balança quando opto por seguir adiante. 
 
Chegamos no momento atual: Pandemia do Coronavírus, situação sem paralelo no mundo. 
 
Naturalmente, entro no modo defesa e começo a analisar a situação por todos os prismas e a pensar em cada cenário possível.  Não me baseio em achismo. Cada possibilidade que pensei é real de acordo com informações que o mundo tem até o momento e conversas com professores de outros lugares do mundo, onde a epidemia chegou antes ou está para chegar. 
 
Quando estou treinando para uma competição de Jiu Jitsu, nunca parto do princípio que será fácil. Sempre treino esperando que meu adversário será mais técnico, mais forte, mais flexível e mais explosivo que eu e sempre ele é, ao menos, em algum quesito de fato superior. Vou além, imagino que se eu conseguir passar do primeiro, os seguintes serão ainda melhores que o anterior.
 
Isso me faz querer treinar com os melhores presentes no tatame, me faz dobrar o foco quando estou cansado e, antes de iniciar cada "rola", mesmo exausto, pensar que nāo posso esmorecer, pois estarei me sentindo pior na hora da luta. 
 
Eu me preparo para ser o melhor, no meu pior dia. 
 
Não significa que eu ganhe todas, longe disso, como vocês bem sabem. Mas em geral, quando ganho, saio com a sensação de que o treinamento foi muito mais sofrido que o campeonato. 
 
É assim que estou me preparando para a pandemia.
 
Respire fundo. 
 
Primeiro vale frisar que não estou escrevendo um artigo científico, então serei vago, mas falarei o suficiente para explicar meus receios e conclusōes. 
 
O que me parece é que a comunidade de Jiu Jitsu não se deu conta do que isso pode significar para o futuro do esporte. O que mais vejo são pessoas ansiosas para que as autoridades simplesmente autorizem a abertura da academia, com a ilusāo de que no dia seguinte tudo vai voltar ao normal. 
 
Acho que haverá dois caminhos, os incautos que voltarão , seguirão suas vidas normalmente e se verão forçados a voltar atrás quando se derem conta que alguém próximo está doente, ou pior, em estado grave. 
 
No outro extremo, os medrosos, ou precavidos, que por serem de grupo de risco ou conviver com quem seja , simplesmente não arriscarão a frequentar o tatame ou não permitirão que seus filhos o façam.
 
Os que já treinam, sim, pela paixão, certamente se colocarão em alguns momentos de risco, para ter o prazer da prática. Mas qual a chance de alguém que nunca fez, começar a treinar sabendo dos riscos? Eu diria que as mesmas de alguém se interessar em aprender a surfar em uma praia de Pernambuco, que tem ataques esporádicos de tubarão. Quem vai pagar para ver? Tenta argumentar que "houve apenas 65 ataques nos últimos 28 anos" e vê quantos você convence. 
 
 
Enquanto não surgir tratamento seguro ou vacina, acabaram-se os campeonatos ou, na melhor das hipóteses, será para poucos. 
 
"Exagero!" - podem argumentar, "Apenas 5% da população tem sintomas gravíssimos". Mas entre esses, a taxa de mortalidade é de 50% e entre os que tem sintomas considerados graves, a taxa é de 15%.
 
Você acha pouco?
Se você joga seu dinheiro na megasena, por exemplo,  acreditando que tem  chance de ganhar e as chances são de 1 em 50 milhōes, você tem que ter pavor das suas chances percentuais de pegar ou transmitir para alguém de risco o famigerado coronavírus.
 
Sem tratamento ou vacina, para fugir do cenário catastrófico temos uma possibilidade: Que os testes rápidos, com resultado em 5 minutos se tornem tão baratos e acessíveis que valha a pena testar cada indivíduo antes dele entrar no tatame. 
Seria o equivalente a camisinha para proteger contra as DSTs. Alguns lugares não serão rígidos, tenho certeza, mas atrairão o público que escolheram com essa decisão e no momento que surgir um foco e a notícia de alguém com sintomas graves, se verão obrigados a voltar atrás.
 
Com os testes rápidos, campeonatos podem voltar a acontecer.
 
Serão também obrigados a voltar atrás aquelas academias que se compararem com comércio normal, como uma loja de roupas ou perfumes e voltarem tão logo haja permissão do governo. Os praticantes e proprietários de academias de luta terão que entender que não somos um atividade de comércio normal e, se fingirmos ser, se hipoteticamente a coisa for tão ruim como estou me preparando, o preço pode ser alto e a consciência de quem é de boa fé vai pesar. 
 
O cenário favorável é surgir rápido um tratamento ou vacina. 
Aí tudo volta ao normal. Daqui a alguns anos vou me esbarrar nesse texto e rir, com alívio. 
 
Estudos dizem que a vacina vai demorar no mínimo de 12 a 18 meses, mas nunca se sabe. 
 
E claro, para ser coerente, tenho que considerar a hipótese de ser, de fato, "somente um gripezinha", um jogo politico e basta termos fé que vamos passar por isso. 
Mas me recuso a sentar e torcer. Prefiro beirar a paranóia, mas ter um plano para cada situaçāo, mesmo sabendo que, como diz o ditado, "O homem planeja e Deus ri." 
 
 
Lembrem-se, estou especulando, não estou fazendo uma previsão. Estou apenas me preparando para o pior cenário e torcendo para tudo isso passar logo e ter aquela sensação que experimentei em cada conquista: de que a preparação foi bem mais difícil que o desafio em si. 
 
Academia fechada durante a pandemia do corona
 
 
 
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