Já estou aqui no “meio” do Segundo round, ou seja, no meio da segunda semana (como disse no e-mail anterior, serão 3 semanas no total). Na primeira semana em LODZ, tudo correu bem, já no começo fiz amizade com todos e me senti bem até pra brincar com eles sem me preocupar tanto com a barreira da língua (vale lembrar que aqui poucos falam o inglês e os que falam o fazem pobremente).
Fiquei hospedado numa família que me tratou muito bem, alias isso é uma coisa que sempre dou sorte, me sinto super querido nas casas que me hospedo e saio sempre com o coração apertado sabendo que sentirei saudades.
Parti rumo a segunda semana, destino Cracovia! Foram cerca de 4 horas de carro em uma estrada horrível (talvez igual, mas não pior que as brasileiras). Tudo correu bem, chegamos de madrugada e fui apresentado à pessoa que iria me hospedar, para minha surpresa um brasileiro.
Evidente que o cara é super gente boa, mas quis saber o que ele fazia morando na Polônia, ele explicou que tinha se casado há pouco tempo, achei legal e no decorrer dos dias ele foi me contando mais detalhe.
Carlos (esse é o nome dele) é o típico brasileiro, jeito de malandro e mulherengo, o cara é de Mato Grosso do Sul, era guia turístico, e segundo ele, as gringas davam muito mole, como foi o caso da Polonesa Ágata (tenho certeza que não se escreve assim, mas parece c isso), estudante de sociologia, foi passar as férias na América do Sul, visitando vários paises e tendo como destino final antes de sua volta o Brasil, foi lá no Pantanal onde se apaixonou pelo Carlos, guia local conhecido, com jeitinho brasileiro (mas cara de Chileno), ela não resistiu.
Ágata voltou para Polônia, mas manteve contato com Carlos, ate o dia que mandou uma passagem para ele visita-la, claro que ele foi. Ficou um mês, ate encher o saco, depois foi mais uma vez ficou mais um tempo ate decidir voltar depois de uma discussão mais calorosa. Já de volta a terrinha recebeu a noticia, Ágata esperava seu primeiro filho.
Poucos meses depois Carlos estava de volta à Polônia, ao chegar lá foi enquadrado pelos pais dela e quase forcado a casar. Fiz a pergunta mais lógica: Se você não queria casar, pq casou? Ele respondeu dentro da lógica dele:
“Ah, sou novo mesmo (23) achei que não tinha nada a perder... pelo menos ela que pagou todas as minhas vindas para cá.”
Esse é meu anfitrião, um típico brasileiro, hehehehehehe.
Agora falando serio, depois que escrevi essa historia vi que não tinha nada haver com o e-mail...hahaha, mas deixa passar...pelo menos eu achei interessante...no mínimo curioso saber como um brasileiro do Pantanal veio formar família na Polônia.
Voltando ao assunto, a Cracovia é um pais fascinante, tenho que agradecer a Deus (e agradeço) a chance que estou tendo de conhecer essas pessoas, culturas e lugares tão diferentes da minha realidade. Tudo isso graças ao amor em comum ao JJ.
Polônia possui belos castelos, alem de em sua historia mais recente ter vivido diretamente os ataques do exercito de Hitler, aqui tinham vários “Campos de
concentração” onde Judeus e poloneses que os ajudavam a se esconder eram mortos. Inclusive me disseram que a família do falecido Papa (que era daqui) ajudou a esconder algumas crianças judias. Outro fato interessantíssimo é que passei de carro em frente a fabrica de Schindler, o do filme a lista de Schindler (me perdoe se estiver escrito errado).
Quinta feira eles me levarão ao campo de concentração que foi o maior da Europa, onde milhares de Judeus foram mortos cruelmente, já me preveniram que será a experiência mais deprimente que já vivenciei.
Também me levaram em uma mina de sal (isso mesmo SAL) de mais de 400 anos que vai a uma profundidade de 120 metros abaixo da terra, só vendo para se ter idéia do que é, mas parece que na época esse mesmo sal chegou a ser vendido a preço de ouro (literalmente), hj não se extrai mais sal e serve apenas para visitação. Pra mim o ponto alto dessa visita foi uma igreja no patamar mais fundo da mina, toda esculpida no sal, inclusive as imagens de santos, lustres etc.
Aqui faz um frio, mas ate que me acostumei, já não me incomoda tanto quanto no começo, os treinos correm bem, todos interessados e receptivos, e mais importante de tudo, aprendendo.
Dois dias atrás no fim de uma aula um aluno me perguntou se eu queria ir com ele a um lugar onde vc entrava numa sala com temperatura de 120 Celsius abaixo de zero.
-120 é isso mesmo, vc não leu errado, CENTO E VINTE GRAUS ABAIXO DE ZERO.
Exatamente, minha cara de espanto foi com certeza pior que a sua, minha resposta com tom de deboche (vcs sabem como é) foi de imediato: “Porque eu ia querer ir nessa sauna do mundo bizarro?”.
Ele riu e me explicou: “não se preocupe, é bom, isso é uma tecnologia criada aqui na Polônia que vem sendo muito utilizada na recuperação dos doentes, tanto em contusões como em outros aspectos. Acontece que comprovadamente se um ser humano permanecer 5 minutos nessa temperatura ele morre, então a gente entra lá e fica 4 minutos, no seu caso, como é a primeira vez você vai ficar apenas 2.”.
Eu falei: “Pra mim não da, meu coração vai congelar, já to morrendo de frio com -11”.
Mas ele insistiu: “Não se preocupe, vc não sente que a temperatura é tão alta, pois o ar é muito seco e tem muito oxigênio, a gente tem ate que usar uma mascara para respirar, se não machuca o pulmão”.
“O que acontece é o seguinte, você entra na sala e imediatamente o seu corpo vê aquela situação como um extremo perigo de morte, então ele começa a produzir TODOS os hormônios possíveis para salvar sua vida, em quantidade muito acima do comum, pois ele entende como se você fosse morrer e tenta te salvar, só que antes dos 5 minutos (no meu caso 2) você sai e começa a fazer exercício (correr, pular, bicicleta ergométrica...) faz de tudo para aquecer o seu corpo o mais rápido possível e em poucos minutos vc esta quente de novo, só que seu corpo já lançou os hormônios e não o absorve de volta e como vc não precisa mais deles serão aproveitados na recuperação da sua enfermidade, você se sente mais forte, disposto etc.”.
Achei que não podia deixar de viver essa experiência, apesar de estar morrendo de medo..., o lugar é dentro de um hospital e a sala parece um frigorífico, você fica de sunga, meia, luva e gorro, primeiro entra numa sala com temperatura de -60, fica uns 20 segundos e entra na sala com -120, lá dentro todos ficam andando em circulo, no começo fiquei bem, com cerca de um minuto e meio já estava me tremendo e com medo do cara esquecer de me tirar com 2 minutos...mas claro que tirou, depois de mim, vários velhinhos entraram, a parada tem grande rotatividade.
Uma sessão não faz mágica, parece que é preciso umas 8 para sentir a diferença, eu vou pelo menos em mais uma.
Bom, por enquanto é isso que tenho pra trazer, espero que vocês estejam bem, saudades de todos, beijos, Felipe.