Caio Terra e Mikey Musumeci treinando no Rio de Janeiro

O dia em que Mikey Musumeci visitou minha academia com Caio Terra.

 Assista o vídeo do treino e fotos aqui: https://youtu.be/5VW6y4N-J6I 

 

 

Caio Terra e eu mantemos uma estreita relação de amizade mas, como muitas, passamos largos períodos sem nos falar, alternados com outros em que nos falamos bastante. 

Nossa amizade se consolidou na adolescência e, geralmente, esses vínculos não se abalam por distância, nem física, nem emocional. 

 

Essa certeza causou um desencontro esse ano. Caio organizou uma viagem com seus alunos para treinarem no Rio e aproveitarem também para curtir as férias.

Chegou no Rio com  Musumeci uns dias antes dos outros alunos, me contactou pois, como em outros anos, queria levar os alunos para conhecer e treinar em minha academia. Eu disse que as portas estariam abertas como sempre, mas eu estava recuperando de uma lesão e prestes a viajar para um seminário na Nova Zelândia (de onde escrevo esse relato). 

 

Ficou desapontado e lamentamos não termos nos comunicado antes para alinhar nossas agendas. Mas perguntou se então podia ir de noite dar um treino com meus alunos e levar o “Mike”. 

 

Não quis anunciar claramente entre meus alunos para não lotar o tatame, mas disse: “se fosse vocês, não faltaria hoje”, escondendo a surpresa. 

 

Quem é Mikey Musumeci?

 

Eu nunca havia ouvido falar do Mussumessi até ele se tornar Campeão Mundial peso pluma, na faixa preta em 2017, culpa minha, já que fui descobrir que já tinha trilhado um caminho de muito sucesso e era arquirrival de atletas brasileiros duríssimos. Quando o vi pela primeira vez dando uma entrevista, logo após o título, me espantei com sua fisionomia, pois parecia um atleta juvenil, de tão novo. 

Esse ano ele repetiu o feito no mundial e se tornou o único americano a ser Bi campeão na faixa preta , entre apenas outros dois que conquistaram uma medalha de ouro. 

Em suas entrevistas demonstrou o mesmo jovem entusiasmo de quem nem deve se dar conta ainda do significado de sua conquista. 

 

Primeiro treino no Brasil 

 

Caio chegou quando meus alunos já estavam aquecidos e focados na técnica do dia. Me apresentou Mikey e eu perguntei imediatamente “como esta seu português?”, que me respondeu com um enorme sorriso e um divertido sotaque “aprendendo, aprendendo”. 

Eu já sabia pelo Instagram dele que estava se esforçando para aprender português, o que considero sensacional para alguém que se dedica a fundo ao JiuJitsu brasileiro. 

A minha surpresa não foi nem tanto esse esforço, mas sim ao fato dele , durante os dois treinos que estivemos juntos, mesmo quando me direcionava a ele para falar em inglês, por querer explicar algo mais complexo, ele respondia em português. 

 

Em nenhum momento falou inglês comigo, por exemplo, pulando para o segundo dia, quando percebi que ele estava com sede mas se negava a beber água, já que o Caio apavorou ele dizendo que não era seguro. 

Eu tentei racionalizar em inglês “Hey, tap water Is not safe, but from the fountain is fine, we have two filters “ ele apenas sorria e respondia “ tudo bem, estou bem” mentindo para mim. Eu sabia que a culpa era do Caio. 

 

A diferença de idade do Mikey para o Caio é um pouco menor que a do Caio para mim. Imagino que por essa diferença, por estar guiando ele pela primeira vez a um país tão diferente ( para eles) como o Brasil, acabou se incumbindo de uma responsabilidade por ele, por momentos até exagerando nessa proteção, como o caso do bebedouro e no primeiro dia em que me alertou que evitasse, ao casar o treino, colocar pessoas muito pesadas com ele. 

 

Lembrei ao Caio o que ele já sabia. Em primeiro lugar, na minha academia, os alunos são proibidos de tratar visitantes como “caça” e são constantemente lembrados que devem rolar com respeito e cuidado e a segunda parte o mais óbvio, tenho um grupo relativamente novo no JiuJitsu, pois minha academia apenas completou três anos, portanto mesmo considerando ter bons alunos, nenhum deles está hoje apto a fazer frente com alguém desse nível. 

 

Caio e Mike participaram de todos os rounds e vários dos meus alunos tiveram o prazer de experimentar rolar com atletas de alto nível do JiuJitsu e no auge físico, o que é uma combinação incrível. 

 

No final de tudo, Mikey me chamou no canto e pediu para tirar dúvidas sobre uma técnica. Eu expliquei com prazer, mas minha sensação clara é que ele estava fazendo aquilo por uma incrível gentileza e sensibilidade de alguma forma “massagear” meu ego, pois não acredito que de fato ele precisasse daqueles detalhes. Mas fiquei feliz dele ter tido esse cuidado. Se realmente minha percepção foi correta, ele demonstrou ser extremamente educado e, mesmo que eu esteja enganado, se de fato ele apenas quisesse aprender aqueles detalhes, foi também um gesto bonito de humildade. 

 

Convidei ambos a participarem do treino de competição que seria no dia seguinte, o já popular “Treino dos leves”, onde abro meu tatame para competidores de várias equipes, desde que não sejam muito pesados.

 Caio estava ocupado preparando tudo para chegada dos alunos, mas  Musumeci apareceu. 

 

O tatame lotou com os de sempre, mas também com pessoas que vão pouco ou nunca, movidos pela curiosidade. 

Perguntei em inglês se ele queria que eu selecionasse ou tivesse algum cuidado ao separar o treino para ele, como vi que haviam muitas pessoas e aprendi a lidar com situações onde me senti “a caça “ ao visitar outras países, tive o cuidado de indagar. 

Ele respondeu com sorriso no rosto, em português que “não tem problema, não se preocupe “, quase encerrando o assunto. Eu sabia que ele não teria problema, minha colocação foi apenas por educação e para ter certeza que ele se sentisse bem. 

 

O treino fluiu de forma excelente, treinou com várias pessoas, alguns roxas e muitos pretas. Não teve dificuldades com nenhum e nitidamente tirou o pé do acelerador com a maioria. 

Impressionou quem saiu do rola , assim como quem assistiu de fora. 

Teve prazer em tirar dúvidas e mostrar detalhes de técnicas que fez com quase todos. 

 

No fim escutou um elogio de um preta casca grossa “Eu já admirava seu JiuJitsu, mas hoje meu respeito por você atingiu outro nível. Não apenas pela técnica que já esperava ser boa, mas pela sua postura e humildade “. 

De fato, Mikey tem um comportamento que denota até uma certa inocência, uma alegria de estar no tatame e partilhar informação. 

 

Tive a impressão que ele não se deu conta da magnitude que é vir para o Brasil, berço do BJJ, sendo ainda tão jovem, e ao final ter uma fila de pessoas querendo tirar foto com ele e registrar aquela lembrança.

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Posted by Felipe Costa Dec 02, 2018 Categories: Academia BJJ Felipe Costa Ipanema