A maioria que lê isso já conhece um pouco da minha trajetória no Jiu-Jitsu. Resumidamente, fui aquele cara esforçado, considerado técnico, mas que nunca ganhou nenhum campeonato grande da CBJJ, IBJJF etc e por um longo tempo nem sequer ganhou uma luta nas faixas coloridas.
Ao chegar a faixa preta me tornei Campeão Mundial na graduação mais importante, sendo o primeiro e, até hoje, o único a levar o ouro no torneio mais prestigiado do mundo do Jiu-Jitsu, sem ter sido campeão nas faixas anteriores.
Conheça mais sobre essa trajetória no documentário:
Lembro bem, dois ou três meses depois da conquista, em conversa com um amigo mais velho que me dava bons conselhos, enquanto divagávamos sobre meu futuro e os rumos que deveria escolher, me aconselhou a decidir entre:
- ser aquele cara que se tornou campeão mundial e parou de lutar e assim deixou no ar aquela glória de invencível, alguém que parou no auge e qualquer especulação se era melhor ou pior, se ganharia ou perderia para esse ou aquele atleta, seria sempre mera especulação, algo somente no imaginário das pessoas. Esse seria um caminho seguro e de certa forma incontestável, afinal, não há muito mais depois de conquistar o maior título de kimono no Jiu-Jitsu. Profissionalmente, a credibilidade necessária eu já tinha.
- Ou ser aquele cara que independente de conquistar a maior medalha dentro do esporte, continuava a disputar vários campeonatos, alguém que não deixaria a vitória ou derrota decidir o rumo de seus desafios. Caso optasse por esse caminho, deveria estar preparado para derrota sem deixar que isso abalasse a crença de quem realmente eu era e ter consciência de que nenhuma derrota apagaria o que já foi conquistado.
Qual caminho você escolheria? Segurança ou o desafio?
Você já sabe qual foi minha decisão!
Me botei na linha de frente sem me preocupar com o que uma derrota poderia causar com minha imagem. Algo que percebo preocupar atletas que conquistaram menos do que eu em suas carreiras e algo que me permitiu também conquistar mais do que atletas com muito mais talento do que eu.
Essas são algumas de minhas medalhas na faixa preta até hoje nos maiores torneios de kimono:
9 medalhas no Mundial IBJJF
2 medalhas no Europeu IBJJF
10 medalhas no Brasileiro IBJJF
6 medalhas no Internacional MASTER IBJJF (considerado até então como o MUNDIAL MASTER)
5 medalhas no Panamericano IBJJF
Tendo conseguido OURO ao menos uma vez como adulto em todos, exceto o pan, apesar de 4 finais (até hoje).
Nada disso torna fácil uma derrota, seja em campeonato menor ou maior. É duro eventualmente perder para atletas que encaram a luta comigo como o maior desafio deles, para poder dizer que venceram "o" Felipe Costa, mas isso não me incomoda o bastante para me impedir de voltar a pisar no tatame.
Já fui questionado por que já não comemoro tanto as vitórias e isso me causou questionamentos também. Quando uma derrota traz mais tristeza do que uma vitória traz alegrias, não seria um sinal? A resposta continuo buscando.
Na base da brincadeira digo que não sou macho suficiente para parar, mesmo nos dias de desânimo, não falto ao treino.
Parar quando se é frouxo, deve ser fácil e as desculpas brotam a mil...para alguém que odeia desculpas e sorri ao sentir frio na barriga, tem se mostrado uma questão quase filosófica a decisão a ser tomada e possivelmente penso nisso mais que deveria.
Meu futuro como atleta me perturba. Vitória ou derrota eu aceito. O que não consigo aceitar é ter uma performance aquém do meu potencial. E acreditem, isso é comum. Para dar o meu melhor dentro do tatame é um esforço imensurável psicológico que nem sempre consigo atingir, mas tento. Estar bem fisicamente e com o tempo certo para aplicar o conhecimento técnico também não é algo natural em mim e somente consigo isso com muito treino.
Enquanto a solução para os meus questionamentos não vem, sigo em frente, sem coragem de parar (ou seria com coragem para continuar?), às vezes vacilante e às vezes determinado, mas sempre em frente.