Os super heróis do Jiu-Jitsu
Desde crianças aprendemos a amar e idolatrar os super heróis, ainda pequenos sem termos a capacidade de diferenciar a fantasia da realidade, transferimos desses heróis o sonho de voar, subir pelas paredes , andar em teias de aranha, termos força infinita e outros poderes sensacionais. Ainda pequenos pensamos que nós mesmos podemos realizar esses feitos e temos certeza absoluta que nossos pais o realizam.
Com o passar do tempo e a perda da inocência, aprendemos que esses poderes não existem e conseguimos separar perfeitamente o fictício da realidade e as pessoas, às vezes com melancolia, aceitam que todos esses poderes fantásticos podem seguir apenas na imaginação, nas telas do cinema.
Aprendemos então a admirar feitos extraordinários realizados por pessoa sem super poderes (que são todas),pois imaginamos que se aquela pessoa conseguiu bater aquele recorde, saltar daquela distância, vencer aquele obstáculo, aquela luta ou atingir aquela altura, significa que, se nós estivéssemos em circunstâncias similares, com os estímulos corretos, talvez poderíamos fazer o mesmo. Foi alguém da nossa espécie que fez aquilo ali e por isso é bom sonhar que talvez poderíamos fazer o mesmo.
Em geral, esses feitos são relacionados ao esporte, seja amador ou profissional e TODOS que seguem esse caminho sonham em se tornar o melhor, pois se identificam como sendo da mesma espécie ( e são) daquele que atualmente faz feitos incríveis, logo, pela lógica do parágrafo anterior, “se somos da mesma espécie, potencialmente podemos fazer as mesmas coisas”. Ao dar sequência nos treinamentos que o tornarão especialistas do esporte escolhido, começam a perceber que o que torna aquele grande atleta um fenômeno, um “herói” são atitudes que nenhum personagem fictício precisa passar, é sacrifício diário, não desistir na primeira dor, levantar quando se esta cansado, deixar o ego de lado e passar por inúmeras decepções e derrotas para só então conseguir atingir a perfeição.
A verdade nua e crua é que pouquíssimos estão dispostos a pagar esse preço e para piorar e dificultar o processo, desses pouquíssimos, muitos , ainda assim não atingirão o nível que sonham e ao se dar conta disso, a maioria desiste ou muda o direcionamento do que almeja atingir, estipulando metas mais próximas de sua realidade, mas nem por isso, menos louváveis.
Existem os que se negam a aceitar suas limitações e estão dispostos a qualquer coisa para atingir aquela áurea de super Herói, esses aceitam caminhos ilegais e imorais para tentar atingir o ápice, muitas vezes usando drogas para melhorar a performance, recuperar do cansaço dos treinos, ganhar força, perder peso, ganhar peso etc. Alguns nunca serão descobertos, pois sabem driblar os métodos para descobrir isso e frequentemente recebem ajuda de especialistas, mas vira e mexe alguém é pego.
Quando alguém é pego, as reações variam muito, existem os que ficam quietos, pois simplesmente também fazem e morrem de medo de no futuro serem eles os descobertos (mesma lógica do político que rouba e se cala ou defende sutilmente o outro político que é descoberto) e existem os que se negam a ver a realidade e continuam apoiando o atleta, pois deixar de apoiá-lo seria como admitir que foi enganado e que toda admiração pelos feitos daquela pessoa fossem pelo ralo e pior, no fim, admitir que não seria capaz de repetir aqueles feitos, pois estavam além das capacidades humanas, pois foram conquistados com artifícios sobre humanos.
Por fim, registro que meus heróis do esporte são aqueles que pensam em desistir todos os dias, mas encontram força para encarar mais um treino, mais uma derrota, mais uma temporada e no final, às vezes ganham, às vezes perdem, mas fazem tudo que podem naquele momento para atingir o máximo que um ser humano pode. E quando eu olho isso, tenho orgulho e penso que se eu estivesse em circunstâncias similares, com estímulos corretos, talvez poderia fazer o mesmo, pois somos humanos, apenas humanos.
*Escrito por Felipe Costa (faixa preta, Campeão Mundial de Jiu-Jitsu)